Estudo internacional destaca “prosperidade verde” do Nordeste
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Relatório sobre indústria verde mundial divulgado recentemente pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, coloca o Nordeste brasileiro em evidência nas projeções até 2050. O estudo, que contou com a participação de dois brasileiros, destaca o potencial da região para o que denomina “prosperidade verde”, fundamentada na transição energética (substituição gradativa dos combustíveis fósseis pelos renováveis).
A publicação, com versão em português, aponta o Brasil como um dos quatro países que mostram mais potencial para desenvolvimento e liderança de uma indústria verde, ao lado de China, Estados Unidos e Rússia.
Conduzido pelo Net Zero Industrial Policy Lab (NZIPL), vinculado à universidade, o levantamento teve a participação dos brasileiros Adriana Mandacaru Guerra e Renato Henrique de Gaspi. De acordo com a publicação, a abundância de recursos renováveis, as reservas de minerais críticos e a base industrial existente podem colocar o Brasil (e a região Nordeste) entre os líderes da transição energética do século 21.
Minerais críticos, que incluem as denominadas terras raras, são elementos químicos fundamentais à transição energética. Estão em componentes dos ímãs, turbinas eólicas, painéis solares, baterias, visores de TVs e de celulares, além de motores de veículos elétricos.
O estudo avalia o panorama tecnológico e político do Brasil em sete setores críticos para a economia verde global projetada para 2050, destacando vantagens competitivas, áreas para desenvolvimento e a necessidade de políticas públicas direcionadas e baseadas em dados. São eles: minerais críticos, baterias, veículos elétricos híbridos com biocombustíveis, combustíveis sustentáveis para aviação, produção de equipamentos para energia eólica, aço com baixo carbono e fertilizantes verdes.
“O Brasil é um dos líderes globais no setor de energia eólica, sendo classificado como terceiro maior mercado do mundo”, afirma Adriana Mandacaru.
A pesquisa cita investimentos estrangeiros e nacionais na região Nordeste. “A China está investindo na produção brasileira com uma série de fábricas de baterias e veículos elétricos da BYD e da GWM e expandindo a presença da Goldwind, a maior fabricante de turbinas eólicas do mundo.”
Os clusters tecnológicos que estão sendo criados atualmente em torno das energias renováveis e da manufatura verde, informa o relatório, precisam de trabalhadores especializados e instruídos. “Isso exigirá um plano dedicado para treinar a força de trabalho brasileira com o objetivo de aproveitar o enorme potencial do país e posicioná-lo como líder na geopolítica da transição energética.”
Gargalos
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O estudo da Universidade Johns Hopkins cita o Mapa do Trabalho Industrial elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que estima a necessidade no Brasil de 14 milhões de pessoas para atender à demanda por trabalhadores formais na indústria verde. “Isso pode ser um desafio, já que o Brasil tem uma das menores matrículas em educação e treinamento vocacional (VET, na sigla em inglês) entre todos os países membros e parceiros da OCDE”, aponta o estudo mundial.
O investimento em Institutos Federais (IFs) pode ser a melhor aposta do Brasil na busca de uma política de capacitação direcionada. O relatório destaca que, em março de 2024, Lula anunciou cem novos IFs com 140 mil vagas, a serem construídos com recursos do novo PAC, e que essas novas unidades são obrigadas a fornecer pelo menos 80% de suas vagas para esse fim, em vez dos 50% dos IFs anteriores. “No mesmo evento, ele disse que a meta era passar dos atuais 682 IFs para 1.000”, escrevem os autores.
Um próximo passo crucial é alinhar esses investimentos com a agenda de descarbonização do Brasil, incentivando o desenvolvimento de currículos específicos e programas de treinamento de mão de obra. Por exemplo, os programas-piloto poderiam alavancar os investimentos recentes nos setores de veículos elétricos e energia eólica perto de Camaçari (BA), adaptando o programa de Técnico em Eletrotécnica existente no Instituto Federal local para atender às demandas desses setores em ascensão.
Destaques
O relatório completo: https://livejohnshopkins-my.sharepoint.com/:b:/g/personal/ballan1_jh_edu/EdXN7_8DzytHqwoRJD5T5aYBSkCGn5c2Z8vFGAtCfH8EKQ?e=nUleG0
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Foto em destaque: Território Quilombola do Cumbe, Aracati/CE. Foto: Arquivo Terramar